O
tapete vermelho ligando dois quarteirões da rua República do Líbano, no
Meireles, facilitou a ida dos convidados de um casamento da Paróquia
Nossa Senhora do Líbano até o local de recepção dos noivos. Pelo veludo
encarnado - exposto no asfalto no último dia 5 e com imagem
compartilhada milhares de vezes nas redes sociais - passaram os vestidos
e os sapatos de boa estirpe; por fora dele, seguiram os questionamentos
sobre a Cidade que nasceu para ser plural, mas se flexiona no singular.
A
Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) classificou a atitude
como “privatização do espaço público”. Em outras palavras, o que era do
coletivo foi particularizado naquele sábado. E não só. Ocupações
irregulares não são novidade em Fortaleza nem se encerraram com este
caso. Elas se repetem em locais como o Polo Gastronômico da Varjota.
Por
lá, o restaurante de bacalhau instalou quatro cones na pista para
limitar o estacionamento de terceiros. Apenas clientes devem parar ali,
determinaram os empresários. Já na rua Frederico Borges, mesas, cadeiras
e gente de boca cheia atrapalham a passagem de pedestres pela calçada,
que têm de enfrentar as buzinas dos carros pelo asfalto. Nas ruas Ana
Bilhar e Canuto de Aguiar, a situação se assemelha.
“Quem anda
a pé fica encurralado entre os carros e a ocupação irregular das
calçadas. Isso torna o percurso desagradável para a caminhada, afastando
as pessoas do espaço urbano”, analisa o arquiteto e urbanista José
Otávio Braga, integrante do coletivo Direitos Urbanos Fortaleza. Para
ele, a Cidade ainda precisa se descobrir coletiva, já que os espaços
particularizados se multiplicam em detrimento de um ambiente urbano
compartilhado. “O que falta é uma conscientização coletiva para
valorizar o espaço urbano”, sintetiza.
Fiscalização
Na
visão de Laécio Noronha Xavier, presidente da Comissão de Política
Urbana e Direito Urbanístico da Ordem dos Advogados do Brasil - Ceará,
os casos permanecem porque “falta autoridade urbana”. A fiscalizaçãos
dos casos é de responsabilidade das Regionais e da AMC. As autuações
ocorrem com base no Código de Obras e Posturas do Município, na Lei de
Uso e Ocupação do Solo e no Código de Trânsito Brasileiro.
Adail
Fontenele, coordenador de Articulação das Regionais, admite que as
ocupações irregulares são “recorrentes”, apesar da fiscalização. No caso
do Polo Gastronômico da Varjota, ele relativiza. “(Restaurante ocupando
calçada) é uma prática noturna universal. Acontece em Roma, por
exemplo”. E continua: “Naquele local, há poucos pedestres, as pessoas
não vão ali para passear. Elas param o carro e vão tomar sua cerveja,
seu café. (Lugar para) passear é na praça, na Beira Mar, não na
Varjota”.
Saiba maisComo bloquear uma via legalmente
Vias
podem ser bloqueadas temporariamente para eventos. A solicitação deve
ser feita na Secretaria Regional. O órgão avalia o pedido e, se
aprovado, comunica à AMC.
É necessário apresentar
abaixo-assinado de moradores da região concordando com bloqueio. A AMC
informa que apenas casos de interesse coletivo são aprovados, a exemplo
de festejos religiosos ou populares. Até agosto deste ano, as
Regionais receberam 833 pedidos de uso do espaço público. No mesmo
período, a AMC concedeu apenas 156 autorizações.
Fiscalização
Fortaleza
tem 141 fiscais distribuídos nas sete Secretarias Regionais do
Município. Eles têm a responsabilidade de autuar, entre outras
irregularidades, casos de ocupação indevida do espaço público. A
população pode denunciar as ocorrências pelo telefone 156.
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